domingo, 28 de julho de 2013

Neurogênese Adulta: Possível via terapêutica para danos cerebrais e doenças neurodegenerativas

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Durante quase todo o século 20, o “dogma central da neurobiologia” dizia que a neurogênese (o nascimento de neurônios novos) ocorria apenas durante o desenvolvimento embrionário e que o sistema nervoso central adulto era estático, sem capacidade de regeneração. Essa noção foi desafiada pela primeira vez apenas na década de 1960, quando Joseph Altman e colegas detectaram divisão celular pelo método de autorradiografia, mostrando novos neurônios no hipocampo e no bulbo olfatório de ratos adultos. Apenas na década de 1990, com o isolamento de células-tronco neuronais multipotentes do cérebro de camundongos adultos e com a demonstração de células em divisão na Zona Subventricular com capacidade migratória e de se tornarem neurônios, é que a idéia da neurogênese adulta em mamíferos foi amplamente aceita. Já no cérebro humano, somente nos anos 2000 é que vem sendo estudado e evidenciado que a neurogênese ainda ocorre na fase adulta, mesmo em sujeitos idosos, entretanto, as interações, funções e organização dessas células ainda continuam incertas. Agora está estabelecido que a neurogênese continua durante a fase adulta em pelo menos duas áreas do cérebro de mamíferos: (1) na Zona Subventricular ao redor dos ventrículos laterais e (2) na Zona Subgranular na região do hipocampo.
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No sistema olfatório, as células-tronco residem na Zona Subventricular, região composta por astrócitos, por células proliferativas com alta capacidade mitótica e por neuroblastos jovens. Astrócitos são originalmente células da glia, os quais se acreditava terem apenas função estrutural e de regulação de algumas substâncias no sistema nervoso, porém, especialmente na Zona Subventricular apresentam características únicas de células-tronco, podendo se dividir em células proliferativas e neuroblastos migratórios. Os neuroblastos jovens gerados na Zona Subventricular se organizam em cadeia e migram junto a Via Migratória Rostral, estrutura em forma de tubo composta por células da glia e vasos sanguíneos que possui grande interação com as células migratórias, onde a maior parte dessas células se direciona para o bulbo olfatório, órgão responsável pelo sentido olfativo e sua memória, se desprendendo e migrando para suas posições finais, sendo diferenciados em interneurônios e integrados à circuitaria neuronal. Na região do hipocampo, as células-tronco da Zona Subgranular se dividem em neuroblastos jovens que migram por uma curta distância até o giro denteado, onde se diferenciam em células granulares e se integram à circuitaria neuronal.
A neurogênese em ambas Zona Subventricular e Zona Subgranular está envolvida em alguns tipos de aprendizado, embora suas funções não sejam completamente conhecidas. A significância das funções da neurogênese adulta na Zona Subventircular ainda é incerta, mas sabe-se que há uma melhoria da memória de odores quando neuroblastos migram para o bulbo olfatório, e que esse não é o único alvo possível durante o percurso pela Via Migratória Rostal, o que foi visto em modelos animais de derrame cerebral apresentando lesão no córtex motor e no córtex somatosensorial, onde células progenitoras migraram para o local danificado e se diferenciaram em neurônios. Além da forte relação com o aprendizado e a memória, a neurogênese no hipocampo também tem um papel na regulação do humor, o que leva à hipótese de que transtornos de humor estejam relacionados a alterações na neurogênese adulta.
Desde que a neurogênese adulta foi devidamente reconhecida, muito progresso tem sido feito no entendimento de sua regulação e suas funções. Existe um grande interesse na possibilidade de reposição neuronal em casos de danos cerebrais ou doenças neurogenerativas, envolvendo o uso terapêutico em humanos desse crescimento neuronal adulto, no entanto, muito ainda deve ser estudado para compreendermos melhor as vantagens evolucionais desses processos e sua complexidade funcional, para que possamos algum dia usar esse conhecimento em nosso benefício.
Sinópse por: Paulo Vinicius G. H. Amorim
Supervisão: Evelin Schaeffer

Fonte: Whitman MC, Greer CA. Adult neurogenesis and the olfactory system. Prog Neurobiol 2009;89(2):162-75.
Última atualização ( Sex, 03 de Fevereiro de 2012 21:40 )