sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Flavonóide induz geração de neurônios

Por Tânia Christina Leite de Sampaio e Spohr & Flávia Carvalho Alcantara Gomes

Os flavonoides são compostos polifenólicos, de baixo peso molecular, hidrossolúveis, presentes nos vacúolos de células de diversos vegetais. Esses compostos fazem parte da dieta normal humana, uma vez que podem ser encontrados naturalmente em frutas, vegetais, chás, vinhos, sementes e raízes. Mais de quatro mil compostos flavonóides distintos são descritos até o momento.
Nos vegetais, os flavonoides desempenham uma variedade de funções como bloqueio da radiação ultravioleta extrema permitindo a passagem seletiva de luz nos comprimentos de onda importantes para a fotossíntese, atuam como sinais visuais atraindo animais polinizadores e regulam o crescimento vegetal.

Mas o que estes compostos essenciais para os vegetais, representam para o reino animal?

Nos últimos anos, o interesse pelos aspectos farmacológicos e bioquímicos dos flavonoides tem crescido substancialmente, uma vez que membros dessa família isolados de diferentes plantas revelaram uma variedade de efeitos biológicos em mamíferos, inclusive nos seres humanos. Destacam-se, dentre outras, propriedades anti-bacterianas, anti-fúngicas, anti-viróticas, anti-tumoral; atividade hepatoprotetora, anti-ulcerogênica, anti-oxidante, anti-hipertensiva, hipolipidêmica, anti-plaquetária, anti-alérgica, anti-inflamatória e anti-angiogênica. Essas propriedades fazem com que muitos desses compostos venham sendo usados na medicina popular de diversos países, inclusive do Brasil.

O crescimento exponencial de Doenças Neurodegenerativas, como Alzheimer e Parkinson, aliado ao tratamento ainda ineficaz dessas enfermidades, tem estimulado os pesquisadores a procurarem fármacos alternativos capazes de restaurar o sistema nervoso lesado. Recentemente, compostos flavonóides têm sido apontados como potenciais candidatos ao tratamento de Doenças Neurodegenerativas, especialmente por sua atividade anti-oxidante e neuroprotetora. No entanto, apesar do crescente interesse por essas moléculas, pouco se sabe a respeito dos mecanismos moleculares de ação e alvos celulares desses compostos.

Com o objetivo de compreender essas questões, o grupo de pesquisa liderado pela Prof. Flávia Gomes do ICB/UFRJ, em colaboração com a Profa. Sílvia Costa da Universidade Federal da Bahia, estudou o efeito do flavonóide casticina, extraído da espécie Croton betulaster, presente na região da Chapada Diamantina, no estado da Bahia (Figura 1), na diferenciação e maturação de neurônios do córtex cerebral. O estudo contou ainda com a participação da Profa. Cláudia Benjamim do ICB/UFRJ. Para isso, o grupo utilizou uma metodologia de cultura de células do sistema nervoso de roedores que procura mimetizar as interações celulares in vivo. Dentre estas, destacam-se as que ocorrem entre neurônios e seus principais parceiros, os astrócitos.

Os astrócitos são células que desempenham diversas funções no cérebro incluindo: manutenção dos níveis de íons no meio extracelular, captação de neurotransmissores, suprimento de suporte metabólico para os neurônios e de fatores tróficos essenciais para a sobrevivência e maturação neuronal.

O grupo de pesquisadores investigou a ação da casticina diretamente nos neurônios (cultura pura de neurônios), assim como sua ação indireta, via astrócitos (cocultura neurônio-astrócito), nos progenitores neuronais. O estudo, recentemente publicado na revista Journal of Neuroscience Research, demonstrou que a casticina apresenta um efeito neuroprotetor, diminuindo a morte de neurônios do córtex cerebral de ratos. Além disso, o trabalho revelou um novo mecanismo de ação do flavonóide casticina em células do sistema nervoso central: astrócitos tratados por casticina produzem uma substância, ainda não identificada, capaz de proteger progenitores neuronais da morte.

Desta forma, os dados sugerem que o flavonóide possa influenciar a população neuronal por dois mecanismos distintos: 1. indiretamente, via astrócitos, modulando o pool de progenitores neuronais; 2. diretamente, nos neurônios, protegendo-os da morte (Figura 1). Atualmente, o grupo dedica-se a estudar os mecanismos de ação da casticina na maturação neuronal e formação de sinapses no sistema nervoso central.

O Brasil é o país com maior biodiversidade vegetal do mundo. Inúmeras espécies de plantas brasileiras e seus derivados ainda não foram descobertos e estudados. A caracterização de novos compostos fitoterápicos naturais poderá representar uma alternativa importante para o desenvolvimento de novos medicamentos capazes de contribuir para a regeneração do sistema nervoso pós-injúria.

 

Tânia Spohr foi aluna de Doutorado do Programa de Pós-Graduação em Ciências Morfológicas da UFRJ (PCM) sob orientação da Profa. Flávia Gomes e, atualmente, é bolsista de Pós-Doutorado do CNPq no Laboratório de Neurobiologia Celular do ICB.









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Figura 1: Efeito da casticina nos neurônios: efeito direto ou indireto mediado por astrócitos. O flavonóide casticina, derivado da planta brasileira Croton betulaster, aumenta a população neuronal de duas formas: diretamente [1], a casticina protege os neurônios pós-mitóticos da morte; nos astrócitos, este flavonóide [2] induz a secreção de fatores solúveis, ainda não identificados, que aumentam a sobrevida de progenitores neuronais [3]. Ambas as vias geram um aumento da população de neurônios pós-mitóticos [4].
Figura 1: Efeito da casticina nos neurônios: efeito direto ou indireto mediado por astrócitos. O flavonóide casticina, derivado da planta brasileira Croton betulaster, aumenta a população neuronal de duas formas: diretamente [1], a casticina protege os neurônios pós-mitóticos da morte; nos astrócitos, este flavonóide [2] induz a secreção de fatores solúveis, ainda não identificados, que aumentam a sobrevida de progenitores neuronais [3]. Ambas as vias geram um aumento da população de neurônios pós-mitóticos [4].

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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